sexta-feira, 18 de março de 2011

Farto de ser "bebé" - o preconceito/ignorância das pessoas

Hoje vou escrever sobre o que escrevi no meu primeiro post no blog: o preconceito das pessoas, de todas mas principalmente vou focar as pessoas mais velhas.

Não sei se vou ser muito agressivo no que vou escrever, mas vou escrever o que penso sem rodeios. Vou escrever o que eu passo no dia-a-dia por causa da ignorância das pessoas. Enfim vou dar um grito de desabafo.

Já escrevi aqui, que quando as pessoas olham para mim pensam que sou deficiente mental, porque simplesmente ando numa cadeira de rodas, ou porque falo mal, ou porque tenho estes movimentos involuntários que faz parecer que sou mesmo um deficiente mental ou por causa de outras coisas mais.

Costumo pensar para mim próprio que se eu falasse bem a cem por cento era meio caminho andado para retirar metade destes preconceitos que as pessoas têm em relação a mim.

Vou contar um episódio em que senti mesmo falta de falar bem.

Um dia foi ao registo civil com a minha mãe tratar de umas coisas, e, então enquanto estava à espera da minha mãe na sala de espera, estava lá uma mulher, uma velha nos seus 60 anos, então a velha começou a olhar para mim, com um ar de pena (e isso já me mete confusão), mas isso não foi o pior, o pior foi que ela começou a aproximar-se de mim e esteve mais de 5 minutos a passar me a mão na cara, a fazer-me mimos, sem mais nem menos, tal e qual como um cão, com aquela cara de sonsa e eu a tentar desviar-me dela e ela sempre a fazer-me miminhos. Aí é que senti mesmo falta de falar bem porque se falasse bem dizia-lhe umas coisas, devem imaginar o quê mas eu vou dizer à mesma… “o quê que está a fazer” ou “ não sou nenhum cão para estar a fazer-me festinhas” ou ainda pior “olhe passe a mão noutro sitio… mais a baixo”, sinceramente era capaz de dizer isto. Acho que nenhuma pessoa irritou-me tanto como aquela velha.

No primeiro post também escrevi sobre as pessoas da minha terra, que quase 70% pensam que sou um coitadinho, que não sei nada da vida ou pelo contrário, que sou muito esperto só por saber mexer num computador.

Eu acho que está a mudar aos poucos essa mentalidade aqui na minha aldeia, por causa de eu sair mais de casa e ir à tasca beber um copo, socializo mais com as pessoas e começam a mudar de opinião sobre mim.

Mas mesmo assim ouço comentários que me deixam triste, mesmo de pessoas que estou com elas todos dias na tasca. Tipo: “é complicado”, “é uma pena”, “não é fácil…”, o que mais me revolta é que alguns destes comentários vêem de pessoas que estão diariamente comigo e que pensam que eu não ouço o que eles dizem uns para os outros, mas eu ouço e de alguma forma fico desiludido.

E as outras pessoas, principalmente as mais velhas são iguais. Tratam-me de maneira diferente, umas conversam comigo de maneira diferente, como um bebé, outras pensam que só por andar na rua já sou feliz, e aquelas pessoas que me dão dinheiro, sinceramente nunca percebi o porquê, se sou como os outros…

Gostava de ver a reacção destas pessoas se eu lhes dissesse que também tal como os outros tenho vícios, ou que tal como os outros já apanhei bebedeiras, ou que tal como os outros saio à noite e venho às horas que me apetece, ou então que já foi a sítios fazer coisas que as pessoas nunca vão imaginar que fiz. Aposto que se as pessoas soubessem destas coisas, passava para metade os que têm uma ideia errada sobre mim.

Recentemente fiquei um pouco desiludido com um vizinho meu, pois pensava que ele tinha outra ideia sobre mim. Comecei a estar mais com ele por causa do meu estágio e sinceramente não gostei muito da forma como ele, principalmente, comunicava comigo, ao fazer gestos como que fosse para um deficiente mental, pensava que ele me via de forma diferente. Mas agora com o tempo já está a mudar, está a tornar-se como eu quero que ele me veja, como um gajo qualquer.

Até agora falei das pessoas mais velhas que essas sim têm mais preconceito, mas agora também vou falar um pouco dos jovens.

Tal como os mais velhos, os mais novos também têm uma ideia errada sobre mim, acham que sou deficiente mente ou que não sei nada da vida, embora em percentagem menor do que os velhos e isso deixa-me satisfeito.

Mas há aquelas pessoas jovens que também têm comentários e expressões que também me deixam triste.

Eu assusto-me facilmente e então às vezes quando alguém vê isso, gozam comigo e fazem mais para me assustarem despropósito só para se rirem um bocado, pensam que eu não vejo mas eu vejo e a minha vontade é de raiva por estarem a gozar comigo e não poder fazer nada.

Outra situação que acontece, mais com as miúdas que não sei porquê, acham e dizem mesmo “tadinho…”, e aqui volta a vontade de falar bem, se não dizia-lhes “coitadinho é corno”, uma vez ainda disse isso a uma miúda e deu para perceber que ela percebeu mas continuou a trata-me a quase de maneira igual.

Não percebo o espanto de alguns quando eu peço uma mini com palhinha ou até só a verem-me beber por uma palhinha. Mal estou a meio da primeira mini e dizem que vou apanhar uma bebedeira porque estou a beber de outra forma do que é normal. Não sou como eles? Não posso beber uma mini por uma palhinha? Ou até apanhar uma cabra? Como é normal nos jovens…

Nos jovens há uma coisa positiva, é que basta um bocado de paleio por a net ou por sms para ficarem a saber que sou igual. Tantas vezes que fiz isso e começaram a ver-me de forma diferente (principalmente miúdas).

Há outras situações que por dentro deixam-me revoltado pelo que fazem e dizem.

Uma é a questão de falaram só para mim do Benfica e nada mais, “o Benfica é o maior não é?”, “quem é que vai ganhar? É o Benfica, pois é…”, isto mete-me impressão porque falem-me como se fosse um bebe para eu ficar todo contente e pensam que eu só vejo o Benfica à frente e nada mais, lá está o pensamento de que sou um atrasado mental.

E quando me vêem no café a beber uma mini sozinho e mesmo assim pensam que sou um coitadinho? Se fosse assim não estava a beber álcool não é??

Também não percebo a razão de quando algumas pessoas (principalmente mais velhas), perguntam por as namoradas, “quantas são?” ou “elas não te largam”. Se sabem que não tenho nenhuma namorada e que é difícil ter alguém. Às vezes a minha vontade é de dizer: “olha, ainda no sábado foi lá…” queria ver a reacção dessas pessoas ou então se algum dia aparecesse mesmo com uma gaja sentado no meu colo e a namorar comigo… queria ver mesmo as caras dessas pessoas.

Não sei se foi muito “agressivo” neste post ou não, mas é o que penso e o que tenho vontade de dizer ás pessoas.

Há uns tempos ouvi uma expressão que achei interessante e que é verdade: “o preconceito é ignorância”. Estou de acordo.

Também sei que a maior parte das situações que não são por mal, mas estou farto de ser tratado assim.

Sou um gajo normal, como os outros a nível de raciocínio e gostava de ser tratado com tal.

Nada de pena, nada de preconceito, apenas quero que me velam como outro qualquer rapaz